A essência das Guerreiras Grenás passa pela luta diária para que mulheres conquistem espaços dentro da sociedade, nas mais diversas áreas, e o futebol se encaixa dentro deste plano, já que continua esse sendo um ambiente predominantemente masculino.
Por este cuidado com as categorias de formação, o clube lançou o projeto “Guerreira Segura”, um canal anônimo do futebol feminino das Guerreiras Grenás, no qual as atletas poderão relatar qualquer tipo de ato discriminatório, de abusos, assédios e violências. A idealização é do Departamento de Desenvolvimento Humano (DDH), que envolve as Psicólogas Taís Rios e Camila Rapatoni, além da Assistente Social, Fabiana Nascimento.
Durante o mês de junho, as profissionais fizeram palestras com as atletas das categorias de formação Sub-12, Sub-15, Sub-17 e Sub-20 das Guerreirinhas Grenás e todas as comissões técnicas, alertando todos os tipos de comportamento que podem acontecer dentro de um ambiente que envolvam mulheres e os cuidados dentro da rotina futebolística. As denúncias internas são feitas através do preenchimento de um formulário e os casos são analisados pelo DDH.
“Qualquer situação que envolva discriminação com assédio e violência que tenham vivido aqui dentro, na escola ou na família, que elas tenham vivido até mesmo no passado, que a gente possa dar um acolhimento e atendimento para que isso seja direcionado criminalmente, se for necessário. A gente espera que não tenha situação mais grave, mas que possamos direcionar os casos”, conta Taís Rios.
“As comissões são muito receptivas. Elas acolhem muito o que a gente fala e temos uma troca muito boa. É muito importante até para o clube, sendo um clube formador, de orientar o que pode ser um assédio e o que não pode, o que a menina aceita ser tratada ou não. Nós estamos formando pessoas também, não somente atletas”, detalha Camila Rapatoni.
“A diretoria do clube apoia o nosso departamento. Sempre que precisamos levar alguma situação que precisa ser melhorada, nós temos este respaldo e estamos sempre focadas nisso. Ela precisa ser uma boa jogadora? Precisa. Mas ela precisa também ser fortalecida como ser humano, porque o mundo não só acontece dentro do campo, mas quando está sendo cuidada também fora do campo, com certeza o resultado, em um todo, vai ser bem melhor”, declarou Fabiana Nascimento.
O ciclo de palestras feito pelo DDH foi satisfatório para o preparador físico Roni Almeida, da categoria Sub-15. Para o profissional, foi de extrema importância apresentar os cuidados com as atletas e também de se sentir mais confiável dentro da rotina de trabalho com as Guerreirinhas.
“Este projeto é maravilhoso e acredito que outros clubes precisam fazer, pois precisamos pensar em um todo dentro do futebol feminino. É uma iniciativa impar da Ferroviária, dá segurança para a gente trabalhar e ter uma flexibilidade com este tipo de situação”, declarou Roni Almeida, preparador físico da categoria Sub-15.
Há oito anos na Ferroviária, a atleta Aninha, meio-campista da equipe Sub-20, se sente orgulhosa com a evolução do clube e de ter um espaço seguro para que outras meninas, principalmente das categorias inferiores, também possam realizar o sonho em ser uma atleta profissional.
“É muito importante entrar neste assunto porque é algo que vem surgindo dentro do futebol feminino, que agora está sendo grandioso dentro do Brasil. Muitas pessoas são a favor, mas ao mesmo tempo existem pessoas que são contra. Acontece muito deste abuso moral e sexual, e é muito importante termos estas informações para termos noção de que nós podemos passar e com isso a possamos alertar, falar e denunciar, caso a gente passe por isso. Por estar aqui há oito anos, eu vi muita evolução dentro da Ferroviária. Estamos com um Sub-12 agora e isso é importante para o crescimento das categorias de base , além de ser importante falar sobre isso, pois as meninas são muito novas e muitas vezes não entendem. Por isso que é muito bom a Ferroviária se preocupar com isso, porque a gente começa a dar entendimento pra essas meninas caso aconteça esta infelicidade de poder denunciar e se sentir melhor dentro do nosso ambiente de trabalho”, contou a atleta.
ASSÉDIO NO FUTEBOL FEMININO E NA SOCIEDADE
Em março, um levantamento feito pela jornalista Camila Alves, do ge, mostrou que 209 atletas de clubes de todo o Brasil que participam das três divisões do Brasileirão Feminino (A1, A2 e A3), 52,1% relataram terem sofrido algum tipo de assédio dentro do futebol, seja sexual ou moral.
Neste ano, durante os jogos das Guerreiras Grenás, o sistema de som da Fonte Luminosa faz o alerta com a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher, além de orientar quem está em situação de vulnerabilidade.
De acordo com a Rede de Observatórios da Segurança, em 2023, a cada 24 horas, ao menos, oito mulheres foram vítimas de violência, totalizando 3.181, um aumento de 22.04% em relação a 2022. O estado de São Paulo lidera eventos de violência contra a mulher, sendo que em 2023 foram registrados 1.081 casos.
Texto e fotos: Rafael Zocco/Ferroviária SAF
Vídeo: Paula Gomes/Guerreiras TV