Caro torcedor afeano,
Desde que entrei no futebol e decidi colaborar com a nossa Ferroviária, procurei entender os motivos e razões dos insucessos desportivos que obtivemos nestes últimos anos. Durante esses pouco mais de dois meses que estou como presidente, foram horas de debates e reuniões, dialogando sobre as estratégias e práticas administrativas, bem como entendendo as diretrizes das categorias de formação e profissional no futebol. Houveram conversas com diretores, funcionários, atletas, patrocinadores, parceiros e torcedores de nosso clube. Parto do princípio de que precisamos compreender o terreno de jogo com profundidade, para que assim possamos tomar qualquer decisão ou medida que tenha impacto no futuro desta organização.
Antes de assumir este cargo, sempre deixei claro que sou um apaixonado pela Ferroviária e nunca me coloquei na posição de expert em futebol, acredito que especialista é quem se dedica exclusivamente ao estudo ou à prática de um determinado campo. Entretanto, procurei utilizar meus 30 anos de experiência como executivo empresarial para compreender a lógica desta indústria e identificar as oportunidades que podem colocar a Ferroviária nos trilhos novamente. Após realizar uma leitura inicial da organização e seu ambiente, gostaria de deixar aqui as minhas impressões como novo presidente desta instituição.
Sempre fui um apaixonado pela história de nosso clube, meu amor pelo futebol é fruto do sucesso das grandes equipes grenás que vi jogar ao longo de minha vida. Por vivenciar intensamente as glórias e dissabores da arquibancada, sei bem o tamanho de responsabilidade que tenho perante a sociedade araraquarense. A Ferroviária sempre foi um ativo de grande valia para a cidade, que por muito tempo usufruiu dos benefícios de ter uma equipe de futebol representativa no cenário estadual e nacional. Também vejo o quanto Araraquara sofreu ao assistir o definhamento desta organização ao vivo, vendo os rebaixamentos consecutivos ao longo de anos e acompanhando a apresentação dos mais diversos projetos de recuperação de nosso amado clube. Na realidade, vi muitas propostas que visavam a constituição de um fim glorioso, porém sem estabelecer os meios para atingir o objetivo proposto.
Como não acreditamos em milagres e soluções repentinas, viemos com o objetivo de identificar as praticas desenvolvidas à frente da Ferroviária ao longo destes anos. Se analisarmos o ambiente de mudança instaurado no futebol durante os anos 2000, entenderemos que uma transição forçada advinda da implementação da Lei Pelé influenciou consideravelmente o modelo de gestão das menores equipes. A exemplo da nossa Ferroviária, diversos outros clubes também não conseguiram se adequar às alterações no modelo de transferir e gerir contratos de atletas profissionais. Dentro da nova regra do jogo, a subsistência financeira viria através de um equilíbrio maior entre avaliação, controle e geração de novas fontes de receitas.
Examinando a evolução deste cenário e comparando com a realidade atual da Ferroviária, é possível identificar que não foram constituídos meios externos que pudessem fomentar a constituição de clubes mais organizados administrativamente e financeiramente. Por exemplo, existem instituições que gastam mais do que 100% de suas receitas em salários de atletas e não são punidas por Federações e Confederações. Esta falta de controle faz com que o ambiente competitivo seja desigual e acabe prejudicando os clubes que procuram aplicar práticas de desenvolvimento sustentável. Além disso, não foram estabelecidos formatos para auxiliar estas organizações à diversificar fontes de receita. Atualmente estádio, torcida, TV e patrocinadores geram poucos recursos. A falta de um ambiente profissional no futebol fez com que torcedores perdessem interesse pelo espetáculo e que empresas ficassem cada vez mais desinteressadas pelos projetos apresentados. Dentro deste contexto, caminhar com as próprias pernas tem sido inviável para quem almeja grandes feitos em competições do futebol paulista.
Portanto, analisamos que as relações de parceria atualmente estabelecidas são benéficas para a constituição de um projeto que seja sustentável financeiramente. Obviamente, precisamos realizar alguns ajustes conceituais e operacionais para correção de rumos e implementação de planos futuros. Ao contrario do que tem sido dito, o contrato firmado com o Grupo Know-How nos dá a liberdade para participarmos ativamente do estabelecimento das estratégias organizacionais, bem como para constituir um projeto futebolístico de longo prazo. O objetivo é manter este parceiro dentro da realidade de nosso clube, auxiliando na construção de uma organização que realmente represente os anseios dos afeanos e de Araraquara. Além disso, existe toda a assessoria ofertada pelo Clube Atlético Paranaense para que nos tornemos um clube de primeira divisão, dentro e fora do campo. Esta instituição nos abriu as portas para a troca de conhecimento nos mais diversos âmbitos, fazendo com que aprimoremos nossos processos e práticas de gestão do futebol. Através do auxílio de um dos clubes mais organizados do Brasil, vamos tornar nosso processo de tomada de decisão mais seguro e assertivo.
Através do estímulo destas relações estamos buscando o fortalecimento da Ferroviaria como uma organização corporativa, estabelecendo caminhos profissionais para voltarmos a ser referência futebolística no interior de São Paulo. Com base nesta premissa, estamos estruturando processos institucionais para os departamentos mais estratégicos do clube, inclusive o futebol profissional. O objetivo é que procedimentos sejam fortalecidos e que a Ferroviária não fique mais refém de trocas de diretores, gerentes, treinadores e membros da comissão técnica. Vamos trabalhar em prol da constituição de uma política organizacional, embasada no resgate dos valores mais profundos da Associação Ferroviária de Esportes.
Sabemos que nosso caminho não é fácil, pois estamos buscando a estruturação através da quebra dos paradigmas mais profundos desta indústria. O futebol sempre foi formatado por credos, dogmas, códigos e ideologias prontas, onde por muito tempo acreditou-se que nossa angústia acabaria através da contratação de determinado treinador, ou do camisa 10 ideal. O fato é que estamos cansados de respostas prontas, a Ferroviária não pode mais se render à aqueles que vendem o modelo do sucesso ou o caminho da vitória para um Campeonato de 4 meses. O esporte mais disputado e difícil do mundo tem que ser respeitado, devemos começar a compreende-lo através de toda sua complexidade e imprevisibilidade. Através do estudo e da construção coletiva vamos pavimentar o nosso modelo de atuar no campo e no mercado, sempre analisando, monitorando e debatendo cada processo.
Através do apoio do Grupo Know- How e Clube Atlético Paranaense, convidamos nossos torcedores a renovar os votos de confiança em nosso projeto. Queremos sua participação e crítica para reconstruirmos um clube agregador. A Ferroviária é do povo araraquarense, feita pelas pessoas dessa terra.
Carlos Alberto Salmazo
Presidente da Ferroviária S/A